imagem por Divulgação/Núcleo Evoluir

Falar pode ajudar a superar a depressão

Dados da Organização Mundial da Saúde dão conta que mais de 800 mil pessoas em todo o mundo tiram a própria vida anualmente no mundo e cerca de 12 mil no Brasil. Os números podem ser ainda maiores, uma vez que nem sempre o suicídio é notificado. Trata-se de uma importante questão de saúde pública, mas que é possível ser prevenida com ações eficazes e apoio de profissionais da área da saúde capacitados para reconhecer fatores de riscos, que não são poucos. Neste mês, que marca a discussão sobre o tema, especialistas apontam quais ações podem ser importantes para superar esse problema. Entre os caminhos, o mote da campanha Setembro Amarelo: “Falar é a melhor solução”

Para a psicóloga Sephora Cordeiro, do Núcleo Evoluir, falar é sim a melhor saída. “O indivíduo que pensa em atentar contra a própria vida vive um sofrimento emocional muito intenso e, sem dúvida, sofre de algum transtorno psiquiátrico, como depressão”, destaca ela, lembrando que este indivíduo, às vezes, precisa do apoio das pessoas que estão ao seu redor para que percebam seu sofrimento e o ajudem a reconhecer que precisa buscar ajuda profissional.

Sephora lembra que há um grupo vulnerável e que “pede” uma atenção especial, como os que passam por um sofrimento emocional, principalmente quando associado a um transtorno psicológico ou psiquiátrico. Pessoas vítimas de preconceitos, como homossexuais, vítimas de machismo, de bullyng ou que vivenciam eventos extremos, como os refugiados, que deixam seus familiares, sua história e sua identidade cultural e se vêem diante de um outro mundo também podem apresentar comportamentos suicidas. “Muitas vezes é possível perceber indícios de que a pessoa está enfrentando problemas, quando usa frases como “eu não devia ter nascido”, “não vejo mais sentido na vida”, “queria dormir e não acordar mais”, entre outras”, pontua a psicóloga.

Para a psiquiatra Gisele S. Teixeira Bellinello, do Núcleo Evoluir, há ainda algumas variáveis, isoladas ou associadas, que podem ampliar o risco de suicídio, como depressão grave, transtorno afetivo bipolar, síndromes psicóticas, impulsividade, dependência de álcool ou outras substâncias psicoativas, traumas de infância, violência sexual e física, perda ou separação dos pais, entre outras. As faixas etárias de adolescentes e idosos, alerta a médica, também pedem uma atenção especial. Tanto que, segundo dados da OMS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.

“Não há um motivo único para essa vulnerabilidade entre os jovens”, analisa Gisele. Entre os fatores que podem influenciar o comportamento suicida estão sentimentos de isolamento e busca por participação em grupos, experiência de abusos físicos e sexuais na infância e adolescência, desestruturação familiar, com diminuição de vínculos afetivos, conflitos com relação à sexualidade e sensação de incapacidade e inadequação frente ao aumento de demandas escolares e sociais, além de ser nessa faixa etária que muitas das doenças psiquiátricas começam a se manifestar, eventualmente já com episódios graves e tentativas de suicídio, especialmente quando associados ao início precoce de uso de bebidas alcoólicas e outras drogas. 

Para as duas profissionais, a melhor forma de ajudar e prevenir o suicídio é mesmo buscar ajuda e informações sobre o sofrimento psicológico e transtornos psiquiátricos. “É importante que se fale mais sobre suicídio de modo responsável, desmistificando o tema e acabando com o preconceito que ainda existe, estimulando o tratamento”, lembra Gisele. Familiares e amigos também precisam ficar atentos ao comportamento para que ajudem quem está sofrendo a buscar ajudar, acrescenta Sephora.

Os principais desafios para enfrentar o problema, avaliam as especialistas, são os estigmas e tabus que percorrem o tema. “Suicídio é a conseqüência irreversível de sintomas não identificados a tempo para tratamento. Por isso é importante investir em informação para população e treinamento para os profissionais de saúde”, pontua a psicóloga. Gisele, por sua vez, reforça que para ajudar a vencer o problema é necessário conhecê-lo melhor. Por isso, ela destaca a importância do profissional de saúde preencher as fichas de notificação obrigatórias quando há tentativas de suicídio ou suicídio já consumado. “O melhor modo de enfrentar os estigmas é com educação e informação de qualidade para toda comunidade”, finaliza a psiquiatra.

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  • Autor: Toda Rede
  • Data: 21 de setembro de 2017