Psicóloga fala sobre mudança de gênero
A história da personagem Ivan, da novela “A Força do Querer”, chamou a atenção do Brasil para a aceitação das pessoas transgênero. Na trama escrita por Glória Perez, Ivan nasceu Ivana - uma mulher -, mas ao longo da novela se descobre como uma pessoa pertencente ao sexo masculino. Apesar de polêmica, a história de Ivan despertou empatia nos telespectadores, que passaram a ver com olhos menos preconceituosos o dilema das pessoas que não se sentem à vontade no sexo biológico.
A psicóloga Paula Cordeiro, do Núcleo Evoluir, considera importante a iniciativa de falar sobre o assunto. “Como em todos os casos de minorias - que são grupos que diferem da maior parte da população - o preconceito pode ser fatal”, avalia ela, lembrando dos inúmeros casos de manifestações de ódio que resultam até na morte de travestis e transexuais. “É preciso fornecer para a população o maior número de informação possível, estimular a empatia entre as pessoas para que não tenhamos mais situações de preconceito e violências contra essa ou qualquer outra parcela da população”, destaca.
Conforme Paula, não há uma idade padrão para identificação de desconforto com o gênero, até porque muitas vezes esse desconforto é socialmente reprimido e a pessoa só consegue percebe-lo em idade mais avançada. Os sinais que indicam a identidade de gênero com o sexo oposto ao nascimento podem ser claros, como desconforto especifico com o gênero, insatisfação com características físicas e não reconhecimento como homem/mulher. “Mas pode haver sinais mais gerais, como ansiedade muito alta, alguns traços de depressão, entre outros sintomas não necessariamente ligados à identificação de gênero”, pontua, lembrando que não há regras estabelecidas para todas as pessoas. “A partir do momento em que existe a consciência sobre o gênero, é possível que se comece a apresentar características transgênero. Muitas vezes, devido à cultura e ao meio em que a pessoa vive, ela pode demorar mais para dar pistas ou mesmo se identificar como transgênero”, avalia.
Também não existe uma idade “certa” para o reconhecimento da identidade trans. “As crianças, por exemplo, apresentam forte desejo de pertencer ao outro gênero ou insistência de que um gênero é o outro. Além disso, apresentam descontentamento com a própria anatomia sexual”, explica. Também é frequente observar preferências pelo gênero oposto e resistência em vestir roupas típicas de seu gênero de nascimento.
Pessoas transgênero que decidem assumir essa condição precisam de ajuda e apoio profissional e também de amigos e familiares. A forma como irão comunicar isso, porém, depende de cada contexto. “O principal é conseguir comunicar sentimentos, explicar que o que está acontecendo é uma tentativa de se sentir melhor, de se sentir natural dentro do seu próprio corpo. É difícil para a maioria das pessoas entenderem que algumas pessoas não se sentem naturais com seus corpos, por isso é necessário explicar o que sente e o que espera sentir”, orienta. Amigos e familiares devem formar uma rede de apoio para que não apenas fortaleçam a pessoa transgênero, mas a todos como uma unidade.
Durante a transição de gênero, toda ajuda necessária é bem-vinda, o que envolve apoio psicológico, psiquiátrico, médico e nutricional, além, é claro, do acolhimento de amigos, familiares, pessoas da comunidade próxima e do trabalho. A psicóloga lembra que uma mudança tão grande pode gerar inúmeros sintomas de ansiedade e depressão. “Por isso é essencial o acompanhamento psicológico”, reforça.
A psicóloga lembra que existem pessoas que já se assumem como "livres" de definições de gênero e preferem transitar entre os gêneros ao invés de assumir um “rótulo”. “É preciso entender que cada indivíduo é único e, portanto, tem suas próprias características. Nossas preferências e escolhas podem mudar ao longo da vida, o que pode ocorrer devido ao aumento do autoconhecimento e da aceitação de sentimentos”, finaliza.
- Autor: Toda Rede
- Data: 05 de outubro de 2017